quarta-feira, 22 de junho de 2011

BLUMENALVA E NAUEMBLU: A FORÇA LITERÁRIA DA FICÇÃO BLUMENAUENSE

JOSÉ ENDOENÇA MARTINS

Este texto é uma tentativa. E como tentativa deve ser entendido. Já foi tentado em outras oportunidades, mas ainda deve ser visto como tentativa. Agora, talvez, com maior consistência analítica, com mais detalhes.
Em seu status de tentativa, este texto quer reafirmar que a Literatura Blumenauense é uma literatura forte. Sua força está em dois simples fatos: de um lado, ela oferece obras que podem ser avaliadas; do outro, ela também proporciona conceitos que podem ser empregados na avaliação daquelas obras.
Iniciemos com os conceitos.
Encontro nas palavras de Claire Colebrook (2002) a informação de que Gilles Deleuze acredita que conceitos “produzem uma orientação ou uma direção para o pensamento.”(p.15) Como Deleuze, Colebrook acredita que conceitos são criativos, e criam conexões entre o que já é conhecido e o que é novo. Para Deleuze, ainda nas palavras de Colebrook, “conceitos (...) criam possibilidades para pensar-se para além do que já é conhecido e assumido.” (p.19) Colebrook acrescenta: “um conceito nos provoca, nos desvia das nossas maneiras de pensar e abre a experiência a novas ‘intensidades’: uma maneira de ver diferente.” (p.20)
Duas metáforas ou conceitos são fornecidos pela Literatura Blumenauense: Blumenalva e Nauemblu. São a evidência da força literária do texto blumenauense. Como conceitos elas nos permitem pensar criativamente a Literatura Blumenauense. Pensar com criatividade aqui pode significar produzir “uma orientação ou uma direção para o pensamento,” (p.15) como sugere Colebrook. Aliás, para um novo pensamento sobre a literatura blumenauense.
Vejamos o poder criador da metáfora, ou conceito, Blumenalva.
Como metáfora criativa e criadora, Blumenalva remete a um conceito de germanidade monolítica, fechada e, principalmente, paradisíaca. A poesia, ou ficção, Blumenalva pretende estabelecer a visão de que o imaginário poético e ficcional local é positivo porque se volta ao que deve ser apresentado como elemento limpo, branco, mas primeiramente, germânico. Lindolf Bell, poeta local, cunha a palavra Blumenalva. Eu lhe confiro o status de metáfora e de conceito. A ela associo o imaginário de origem germânica que ainda cobre a cidade de Blumenau e sua literatura. Por isso, Blumenalva é uma metáfora teuto-blumenauense – centrada no hibridismo cultural – que se expressa em Bell quando, num poema sobre Blumenau, o poeta se refere à cidade como

Minha cidade Blumenália
Minhas ruas varridas,
Meus crepúsculos alvoradas,
(...)
Dentro de ti viajo, Blumenau
Blumenalva, Blumenágua.

No poema, encontramos a noção de limpeza no verso “minhas ruas varridas.” A visão da beleza local aparece no verso “meus crepúsculos alvoradas.” A idéia de aceitação do conceito e de identificação com ele está presente no verso “dentro de ti viajo.”
Entre os anos 60 e o início dos 90, muito – não toda – da Literatura Blumenauense parece ter repetido – assumido, também – o verso de Bell “dentro de ti viajo, Blumenalva,” e sucumbido ao seu encanto estético. Todavia os que não embarcam na Blumenalva belliana não ficam desamparados de uma metáfora, ou conceito, compensatório porque, nos anos 90, Dennis Radünz, inventa a Nauemblu, que vem servir de fundo teórico para os escritores que se distanciam da Blumenalva. Por isso, vejo que Nauemblu pode ser lida como a metáfora que representa a superação da Blumenalva.
Diferente da monolítica, fechada, centrada e paradisíaca Blumenalva – é preciso lembrar que Blumenalva pode significar Blumenau Branca – Nauemblu se mostra plural, aberta, de-centrada, estranha e nada paradisíaca. Visível na multi-traduzível evocação de Nauemblu reside o caos – o estranhamento fértil – que se constrói e reconstrói em inúmeras possibilidades de tramas e tecidos textuais, tanto inesperados quando inexplorados, ou desesperados. Toda esta pluralidade de Nauemblu está sugerida nos versos de Dennis Radünz que afirma

Nauemblu
A cupidez da tristeza
Entretecida
Trama a malha viária.
A pluralidade de Nauemblu se inscreve no verso “entretecida.” Ou seja, ela apresenta a possibilidade dos textos tecidos entre si, na intertextualidade. Dialogismo que é ampliado pelo verso “trama a malha.”
Pode-se afirmar que Blumenalva e Nauemblu se opõem e se excluem cronológica e tematicamente. A primeira se volta ao passado, a segunda, ao futuro. Aquela se alimenta do valores e ideais mais caros à germanidade local, esta se inscreve nas forças locais que vão muito além das germanidades, brasilidades e mundialidades culturais que o local é capaz de engendrar esteticamente. Entre as duas é preciso optar. A opção não apenas separa Blumenalva de Nauemblu, mas põe em campos diferentes e opostos da literatura local germanização e des–germanização.
Agora, um estudo concreto.
Do lado da Blumenalva colocamos o romance Verde Vale, de Urda Alice Klueger (1979). No campo da Nauemblu posicionamos o meu romance Enquanto Isso em Dom Casmurro (1993). Lauro Junkes (1987) aponta os valores germânicos presentes no romance de Klueger. “Verde Vale é o livro das origens de Blumenau, o livro do desbravamento, da luta, da coragem, da decisão e persistência dos alemães que acreditaram no Dr. Blumenau, deixaram sua pátria, e vieram construir com seu sacrifício e sua dedicação, a colônia que teria o nome do fundador e se transformaria numa das cidades mais marcantes e progressistas do Estado,” explica o crítico.
Antônio Hohlfeldt (1997) analisa os aspectos Nauemblu do meu romance: “Temos referências explícitas ao racismo brasileiro e, muito especialmente, ao racismo vigente no sul do país, como na região de colonização alemã que é Blumenau, onde decorre a ação. Mais que isso, há também uma crítica explicita da sociedade de consumo, marcada pela televisão e seus sub-produtos, transformados em simulacros da realidade, mediante a crítica à figura da cantora Sula Miranda e da institucionalização da Oktoberfest na região.” (p.147)
Os dois críticos expõem de forma generalizada os antagonismos entre as duas obras. Gostaria de ir além e cotejar como as figuras femininas centrais destes romances – Eileen e Capitu – também se opõem. Eileen, personagem feminina central do Verde Vale Verde se aproxima de Blumenalva; Capitu, personagem do meu romance, se alia a Nauemblu.
Eileen é uma mulher real. É casada, tem marido e filhos. Com a família, abandona a Alemanha porque guerra, problemas econômicos e doença deixam família sem alternativa. “As coisas começaram a ficar cada vez piores. Mais uma das eternas guerras grassava entre os estados alemães. Houve aumento geral nos preços. A pequena Lisa esteve doente. As economias de verão foram todas gastas com médicos e medicamentos,”(p.18) conta o narrador.
Capitu não é uma mulher real, mas inventada pela linguagem. Não tem família. Deixa o romance de Machado de Assis, linguagem, para entrar em outra linguagem, o meu romance. “Capitu não avisou a ninguém que estava saindo do romance. Nem se despediu dos outros personagens (...) Julgou que seria melhor escapulir silenciosa e sorrateiramente como uma personagem menor que rouba a cena à figura principal (...) Indignação era o que jogava a nossa moça para fora do romance e para dentro das infinitas possibilidades da linguagem.” (p.11) explica o narrador.
Quando chega à colônia, Eileen tem uma boa impressão da colônia de Blumenau. A reação dos que já estão na sede é acolhedora, a comida é reparadora, há a expectativa da benção divina e prosperidade. “Realmente, a comida estava boa. Entre uma colherada e outra, foram tratados diversos assuntos. O diretor foi claro em tudo, explicando exatamente como funcionava a Colônia (...) E que Deus abençoasse a todos, conservasse a saúde e lhes desse prosperidade” (p.29-30.
Capitu tem uma péssima impressão da cidade de Blumenau. Nada lhe agrada. “Aqui estou eu (...) numa cidade de merda, onde as únicas alegrias, alegrias mesmo, que a população tem são uma enchente religiosamente sacana e anual, uma Oktober descaracterizada e a possibilidade bisonha de imitar Sula Miranda em tudo,” (p.13) a própria Capitu se revolta.
Eileen é única. É meiga, frágil e linda. Ficamos sabendo da sua aparência pelo próprio Humberto Sonne. “Observou sua elegância discreta, o vestido azul que realçava o louro dourado dos cabelos, as mãos delicadas e finas que seguravam as mãos das crianças, a serenidade alegre dos olhos que tinha cor de violetas dos prados nas tardes de sol,” (p.15) informa o narrador.
Capitu não tem um traço definido, próprio. Ela se utiliza das características de outras mulheres. Capitu se inventa pelo no desejo. Às vezes é Sula Miranda, outras, Zezé Motta, outras ainda, Bertília. “Capitu desejou. Desejou a roupa à Sula Miranda. Desejou a cor e o cabelo à Zezé Motta (...) Capitu vestiu à Sula Miranda. Traje agro-girl. Bota cowboy, pink. Jeans, calca e jaqueta. Pink délavé. O Cinto largo, pink, e a fivelona em forma de imagem. A dela. Chapéu pink de cow-girl, arreado nas costas, preso ao pescoço. Na testa uma faixa pink e, nesta, a inscrição em inglês ‘Capitu, an outsider’” (p. 12)
Eileen, ainda desacostumada com as possibilidades e surpresas que a colônia pode oferecer, parece paralisar-se em sua primeira e inédita experiência com um índio. “É um índio – pensou e sentiu-se paralisada, incapaz de fazer qualquer coisa a não ser continuar ali, de olhos fitos nos olhos negros que a fitavam sem demonstrar qualquer emoção, mas é provável que o garoto índio tenha se amedrontado por ter sido descoberto,” (p. 71) nos informa o narrador.
Capitu também tem um encontro com um menino nativo da cidade Blumenau, um pivete que vende hot-dog. Não há medo ou desconfiança no encontro dos dois. Há cumplicidade e o desejo de que sexo pode se transformar em moeda de troca. Capitu come hot-dog, milho verde, cocada, e bebe coke. Na falta de dinheiro, o acordo para o pagamento é diferente. “Nós sabemos que dinheiro não é tudo na vida. O pivete concordou. Naquele momento, dinheiro não era tudo mesmo. Havia uma negociação tácita entre os dois. Uma outra frase ocorreu a Capitu: nunca tive dinheiro até que arriei as calcinhas. A frase era de Sally Rand. Capitu não conhecia a autora. A frase, porém, fazia sentido naquele momento.” (p. 81)
Eileen, além da sua qualidade de mãe dedicada e de esposa fiel e solidária que se incumbe dos afazeres da casa e da roça, é detentora do pendor artístico. É uma pianista. “Era de novo criança num luxuoso colégio de Munique e foi como criança que roçou com timidez as teclas sagradas, tocando rapidamente, com bastante agilidade, uma música simples e muito antiga, muito antiga, desenterrada lá do fundo do cofre da sua memória, talvez a primeira que tivesse aprendido na infância,” (p. 83) relata o narrador.
Capitu é detentora de uma qualidade artística bem marcante. Ela é capaz de viajar entre linguagens, entre uma ficção e outra, entre Dom Casmurro e Enquanto Isso em Dom Casmurro. “Se ousarmos um pouco, podemos afirmar que no princípio, era Dom Casmurro, a linguagem. Linguagem. Também era o pensamento de Capitu. Romance realista é caixa de Pandora. Às vezes, personagens como ela dão um basta às amarras e debandam. Buscam outros ares. Outras histórias. Ela acabava de debandar. Se ousarmos ainda mais, podemos dizer que, agora, é Enquanto Isso em Dom Casmurro, a linguagem da linguagem. Capitu já se encontrava na nova história. Proferia as primeiras palavras. Sujas. Para sentir o efeito da linguagem na voz própria e ouvidos,” (p. 9) diz o narrador.
Além do encontro assustador com o índio, Eileen tem uma experiência com a menina Elzira, a brasileira que os Sonne encontram perdida na mata. Agora, o medo cede lugar a solidariedade. “Eileen tomou conta da menina. Tirou-lhe as roupas molhadas, enxugou-a, vestiu-lhe uma camisolinha que fora de lisa (...) Pobre criança! Eileen estava cheia de pena.” (p. 91) Mais tarde Elzira vira parte da família e casa com um filho de Eileen.
A experiência de Capitu é com a moça alemã Conike. A relação que ela estabelece com Conike e de patroa e empregada. “Capitu achava interessante alguém como a alemanzinha Conike chama-lá de patroa, ou simplesmente de Capitu. Ou preparar um sanduíche de atum para ela. E ela não comer por causa dos olhos lindos do peixe (...) Porém, o mais interessante naquilo tudo era o fato de que ela tinha em casa uma boneca loura com a qual poderia brincar quando quisesse e como desejasse.” (p.45) Muitas vezes, sexo também rolava entre as duas.
Eileen prepara uma festa para a comunidade. Quer comemorar os dez anos de vida da família na colônia de Blumenau. Dona de casa exemplar e cuidadosa anfitriã, ela cuida de tudo. Cuida também da própria aparência. Neste dia ela veste um vestido de seda. “Era lindo o vestido cor-de pérola que lhe realçava o porte delgado e a elegância natural, como o eram os pequenos brincos de safira que combinavam com a cor dos seus olhos e que faziam conjunto com um anel e um broche. Aquelas jóias tinham sido um presente de Natal por Humberto, as primeiras que ele pudera lhe oferecer” (p. 123).
Capitu organiza uma festa. Mais do que uma festa trata-se de um encontro literário. Um encontro das linguagens negras. Comparecem personagens femininas de romances de mulheres negras. Shug, Celie, Nettie, Janie, Meridian estão presentes. Também presentes estão escritores negros como Richard Wright e Ralph Ellison. Bertília fala: “Senhoras, negras, santas, Irmãs, este encontro de todas nós aqui dá a partida à conquista de nossa visibilidade. Somos invisíveis por dois motivos. Primeiro, porque os outros se recusam a nos ver. Depois, porque não conseguimos nos ver mesmo que queiramos.” (p.127) Mais adiante, Conike também participa da festa destas irmãs negras.
Eileen, em suma, representa a mulher germânica perfeita na colônia de Blumenau. O próprio narrador faz questão de realçar as grandes qualidades desta mulher. “Eileen era a mulher perfeita, a mulher pela qual valia a penar viver. Bonita como uma pintura, terna como um animalzinho novo, viçosa como uma flor, quente como as brasas de uma fogueira, Eileen sobrepujava todas as ambições da vida de Humberto. A dona-de casa perfeita, Eileen era uma aristocrata que dirigia seu pequeno reino com tanta graça e sabedoria como talvez poucas rainhas o houvessem feito. Idolatrada e amada pelos filhos, não havia mãe mais carinhosa e completa em todas as adjacências. Mulher nascida para a vida em sociedade, sabia exatamente como agir e o que dizer em todas as circunstâncias. Tão bem se trajava e valorizava a beleza natural, que nenhum homem titubeava em elegê-la a mais bela das mulheres da Colônia. Mas isso não era tudo. Eileen era mais. Eileen era carinho, era ternura, era a verdadeira aurora que nascia a cada sol, era a adolescente que se ruborizava e se empolgava, era o esplendor da mulher de trinta e cinco anos. Eileen, Eileen, que mais, Eileen? Eileen boa, Eileen bela, Eileen amiga, Eileen amada, Eileen de novo noiva a cada noite; Eileen amante perigosa nas madrugadas. Oh! Mein lieber Gott, que poderia desejar a mais na vida o homem que tinha uma mulher como Eileen?” (p. 136)
Capitu é plural. Difícil é adjetivá-la. Ela sempre é o que ela mesma deseja ser. É o Desejo que torna suas experiências, emoções e sentimentos possíveis e realizáveis. “O desejo. A marca de Capitu. Quando desejasse, o que desejasse aconteceria. Na hora. “(p. 12) Ela deseja ser múltipla, plural, várias ao mesmo tempo ou em tempos diferentes. Ela pensa em algumas dessas mulheres, reais ou inventadas pela linguagem. “Capitu sugeriu vários novos scripts. Havia mulheres dignas nas histórias. Negras, independentes, fortes, extraordinárias, humanas, divertidas, cheias de vida. Capitu enumerou: Shug de Alice Walker, Sula de Toni Morrison, Janie de Zora Neale Hurston. Entre muitas outras do mesmo quilate de mulheres fortes,” (p.26) escreve o narrador.
Eileen morre, com a morte do marido. Para ela não há mais motivo para viver. Dedicara a vida a Humberto e como ele se fora ela também queria ir-se. “Eileen como que perdeu toda luz. Parecia uma vela se apagando – devagarinho, sem alarde, a vida lhe fugiu e ela foi morrer poucos meses depois. Houve quem dissesse que Eileen morreu de velhice. Na verdade, Eileen morreu de amor.” (p. 203)
Capitu não morre. Como ela é produto da linguagem, ela não pode morrer. Ela vive entre textos e vaga entre eles. Por isso, sua morte é impossível. Mas de por acaso ela desejar morrer, há sempre possibilidade da ressurreição. Da repetição, da volta. Como diz o narrador: “agora, a louca negra alma de Bertília voltou.” (p.125). Ela é mais uma das re-encarnações lingüísticas, ou realinhamentos das identidades de Capitu nas linguagens..
Depois da morte de Humberto e Eileen, e da grande enchente, como fica a Colônia de Blumenau? Urda Alice Klueger reforça a idéia de que trata-se de uma cidade de bravos. Não morrerá jamais. “Composta de gente de espírito combativo, em pouco mais de uma ano reconstruía o que o rio destruíra, e, desafiadora, continuou ali, lado a lado, como se o inimigo não tivesse importância.” (p.201) escreve o narrador. A Blumenau de Eileen está de mãos dadas com um futuro promissor.
Eu procuro deixar a possibilidade de imaginar uma cidade no passado, no passado de alguns negros blumenauenses. Cujas histórias foram escondidas e negligenciadas, por causa da força avassaladora dos Sonnes – Eileen – e do que eles representam. “Esta cidade já foi negra, bem negra. Tão negra como a negritude do Veredador Badias. Do Príncipe Negro. De outros negros, muitos outros negros. Tão Negros. Esta cidade também já se viu negra, tão negra como a negritude da louca e santa Bertília. Agora, a louca negra alma de Bertília voltou.” (p. 125) diz o narrador.
Para concluir:
No período que vai entre 1979 e 1993, três rupturas se articulam na letras blumenauenses: entre Blumenalva e Nauemblu, entre Verde Vale e Enquanto Isso em Dom Casmurro e, finalmente, entre Eileen e Capitu. Estas rupturas são significativas porque reafirmam a força literária da ficção blumenauense. Infelizmente, Klueger na sua necessidade de reafirmar a força heróica germânica a concentra na figura de Eileen e, com a morte da heroína, a esperança blumenalva se torna difusa demais. Com Bertília, síntese local da Capitu nacional, eu possibilito expansão do ideário Nauemblu: “a louca negra alma de Bertília voltou.” (p.125)
Esta é a minha contribuição teórica e analítica para a construção da literatura blumenauense para além do óbvio e do comum. Como insiste Colebrook (2002) “conceitos (...) criam possibilidades para pensar-se para além do que já é conhecido e assumido.” (p.19) As metáforas Blumenalva e Nauemblu querem exatamente isso: exorcizar o conhecido e assumido; estabelecer o novo e o inesperado.

REFERÊNCIAS

COLEBROOK, C. Gilles Deleuze. London: Routledge, 2002.
HOHLFELDT, A. A Literatura Catarinense em Busca de Identidade: A Poesia. Porto Alegre: Editora Movimento; Florianópolis: Editora da UFSC e FCC Edições, 1997.
JUNKES, L. O Mito e o Rito. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1987.
KLUEGER, U.A Verde Vale. Florianópolis: Editora Lunardeli, 1994.
MARTINS, J. E. Enquanto Isso em Dom Casmurro. Florianópolis: Paralelo 27, 1993.

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